sexta-feira, 16 de maio de 2014

Contributos para o estudo do património de Cacilhas

«O Farol - Associação de Cidadania de Cacilhas» vem desenvolvendo um trabalho de salvaguarda das memórias dos habitantes de Cacilhas, desde há cerca de dez anos.

Como parte importante deste projecto, surgiu a ideia de publicar uma obra que perpetuasse as histórias, fotografias e imagens da Margueira (Margueira Velha e Margueira Nova, apelidadas popularmente de Margueiras) e que coroasse esforços conjuntos dos actuais e antigos habitantes, descendentes e amigos, a partir do apelo do cacilhense Humberto Borges. Com coordenação de Henrique Costa Mota e os dedicados esforços de Modesto Viegas, Luís Filipe Bayó Veiga, Fátima Branco e Nuno Pousinho, surgiu uma obra que vale a pena ler e divulgar, como reforço para o estudo da história local de Cacilhas e de Almada.


 "Este livro não é mais do que uma colectânea de recolha de testemunhos escritos e orais, daqueles que nasceram e viveram no popular sítio das Margueiras, a que se juntam inúmeras imagens, que nos falam e transmitem as vivências populares, os costumes e tradições, a labuta do dia a dia, a vida social, lúdica e associativa dos margueirenses." (Carlos Leal, Presidente da extinta Junta de Freguesia de Cacilhas)

Prefácio da obra (autoria: Maria Conceição Toscano):
Almada, cidade situada na margem sul do estuário do rio Tejo, assistiu, desde meados do século XIX, ao emergir de uma industrialização em parte induzida pela proximidade positiva da capital, mas igualmente potenciada pelas excelentes condições estratégicas do local, nomeadamente bons acessos de abastecimento e escoamento de matérias-primas e produtos transformados.
Na linha costeira da zona estuarina, o local da Margueira evoluiria rapidamente e sofreria transfigurações a nível económico e social, sendo os mais recentes a abertura da nova avenida de ligação entre Cacilhas e Cova da Piedade, nos anos cinquenta do século passado, necessária aos fluxos de tráfego dos novos tempos do desenvolvimento local, e as obras de infra-estruturação e a instalação dos estaleiros da Lisnave, na década seguinte.
Acolhidos como potenciadores de melhores condições de vida das populações locais, despoletaram uma completa transformação do ambiente ribeirinho, culminando, ainda antes do final do século, num clima de crescente recessão industrial, numa relevante preocupação de preservação ambiental e patrimonial do lugar da Margueira.
A intensificação da industrialização nesta área do estuário do Tejo, levou à alteração e completa descaracterização da sua paisagem sócio morfológica, arrastando na voragem da evolução tecnológica, gentes, casario, artes e ofícios tradicionais.
Necessária e premente se tornava a responsabilidade de preservar o passado, transmitindo às gerações seguintes, o legado de quem as precedeu. Estes estudos são cada vez mais necessários num mundo em transformação e por isso havia que fazer um levantamento das memórias do local da Margueira, tendo em mente o objectivo concreto de rastrear testemunhos físicos e imateriais, e a posterior escrita de um testemunho documental.
Esta obra é fruto da vontade inabalável revelada por uma associação de defesa do património cultural, dinamizando o envolvimento da comunidade local almadense, uma vez que se trata da história social e económica de uma parcela do seu território, demonstrando  que o trabalho desenvolvido pode ir ao encontro da intervenção prática do poder local, visto que, no começo de um novo século, assistimos a um fervilhar de ideias e projectos já aprovados de revitalização da margem nascente de Almada, numa tentativa de devolução deste espaço à sua população, embora com diferentes funcionalidades das que ocorreram num passado próximo.
Lembrar os seus antecedentes será certamente um elo de ligação ao fortalecimento e coesão da identidade colectiva, ao proteger memórias com valor patrimonial.

Pintura de Idalina Alves Rebelo (As Margueiras, contracapa)

A nova muralha da Margueira, 1951 (As Margueiras, p.49)

Maria Conceição Toscano

2 comentários:

  1. Olá Conceição, muito interessante o que vejo por aqui. Tentei seguir o blogue mas não tenho a certeza de ter conseguido ...

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  2. Olá Luzia,

    Obrigada pelo elogio. Quanto a seguir o blogue já está :-)

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