Assistimos, no avançar do século XX, para além das convulsões políticas originadoras de alterações a nível social, às transformações inerentes ao nascimento de uma cidade - a instalação do Arsenal do Alfeite arranca em 1919 com as primeiras obras de terraplanagem; a partir de 1935 as expectativas de maior empregabilidade da zona são reais e começa a movimentação de população, que não terminará nas décadas seguintes, igualmente potenciada pelas grandes obras públicas, como a construção do Cristo-Rei e da Ponte Salazar, e da vinda para Almada dos estaleiros de reparação e construção naval da Lisnave, na década de sessenta.
Tentando colmatar as necessidades de infraestruturação (mais graves a nível da habitação, transportes e abastecimento de água e electricidade) causadas pela chegada de tantos indivíduos, acelera-se a questão da expansão da área metropolitana para sul e a Câmara Municipal de Almada e o Ministério das Obras Públicas criam novos bairros económicos na periferia de Almada, inaugurando em 1942 o Bairro de Nossa Senhora da Piedade.
A estas décadas de dinâmica social e económica, sucederá a recessão total: o declínio da indústria, nomeadamente do importante sector corticeiro e também da moagem (esta já no final da década de oitenta), a crescente terciarização da economia.
Almada possui um enorme potencial sócio económico devido à sua localização numa frente ribeirinha. A vários níveis - económico e social, principalmente - o rio Tejo impôs-se durante séculos como elemento estruturador.
Constituindo este território de Almada um dos pontos integradores de uma área maior (área metropolitana de Lisboa), na qual o que poderia parecer uma fronteira territorial sempre foi, não um obstáculo, mas uma ponte de interactividade entre cada um dos territórios componentes dos outros concelhos com margens estuarinas, nomeadamente Seixal, Barreiro, Moita, Montijo, a sul, desde cedo se constituíram seguras identificações, com valências diversas, numa dinâmica de influência da capital.
Na actualidade deste início de milénio, Almada (concelho incluído num dos anéis centrais da periferia dessa metrópole), à semelhança de outras autarquias, aposta forte no seu papel de "cidade da água" e na requalificação da sua frente ribeirinha, assumindo o seu passado histórico-cultural, num processo de constante evolução. O projecto Almada Nascente tenciona devolver à população almadense os espaços devolutos da Margueira e do Caramujo, em vida suspensa desde há décadas, devido aos processos de desindustrialização e inexoráveis evoluções tecnológicas e de competitividade a nível global, reinvestindo em novos usos do território, num tendencial renascimento urbano, cultural, social e económico.
Este reordenamento social e produtivo da cidade originará novos e sustentáveis eixos de desenvolvimento citadino, se efectivamente passar de um projecto traçado num papel para uma realidade material, auscultando-se a população e levando em conta os seus anseios e expectativas.
EDITAL nº1098/2009, Diário da República Nº218, II Série, de 10 de Novembro de 2009 (Plano de Urbanização de Almada Nascente - Cidade da Água - PUAN)
O Caramujo, na actualidade. Desapossado do cais e em abandono e degradação.
Conceição Toscano
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